08 fevereiro, 2009

Palhoça: História e Cultura com marca da ilha do Pico

O município de Palhoça com 361 km2 e 120.346 habitantes (projeção IBGE 2004) é um dos mais extensos e populosos de Santa Catarina, com uma história que remonta ao século XVIII, ainda que, depoimentos de viajantes relataram que em suas terras viveram no século XVI alguns náufragos.

O território marcado por diversidades de formas de relevos, em que sobressai a estreita faixa da Planície Costeira, onde as praias: Guarda do Embaú, Pinheiras, Papagaios, Pedras Altas (naturalismo), Enseada de Brito, Cedro, Marivone, Praia de Fora, Barra do Aririu, Tomé; enseadas: Enseada de Brito; costões: Pinheiras, Papagaios, Guarda do Embaú. Todos estes monumentos natural-paisagísticos de rara beleza, que emolduram a paisagem junto às águas do Oceano Atlântico.



Soma-se a este conjunto, as terras da Serra do Tabuleiro onde se destaca a exuberância de uma vegetação nativa, uma bela rede hidrográfica formado por cachoeiras e rios, que asseguram parte do abastecimento de água da Grande Florianópolis e são locais especiais para serem visitados.
O ponto mais elevado da serra do Tabuleiro é o morro do Cambirela com 860 metros de altura, que lembra a serra do Pico na ilha do mesmo nome nos Açores.
Registrando-se como curiosidade que muitos picoenses, inclusive da freguesia de São Roque se localizaram na planície próximo a este morro.


O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro com 87.000 ha., maior reserva de Mata Atlântica de Santa Catarina, que engloba terras dos municípios de Palhoça, Paulo Lopes, Santo Amaro, Águas Mornas, São Bonifácio tem sua sede nos Campos do Massiambu, junto a Br 101, onde mantém um centro de visitação.

Neste variado ecossistema viveram povos indígenas desde os tempos Pré-Colombianos. O homem de Sambaqui, o guarani, que participaram desta ocupação humana antes da chegada dos europeus.


A tentativa de ocupação sistemática por imigrantes de origem européia só ocorreu em meados do século XVII, quando o bandeirante paulista Domingos de Brito Peixoto se estabeleceu com “bens de raiz” na baia da Enseada de Brito.
Segundo relatos, os problemas enfrentados com os índios e a malária fizeram com que o empreendimento fosse abandonado por Brito Peixoto, indo se estabelecer mais ao sul, onde organizou a Vila de Laguna.

Durante quase cem anos ficou a região semi povoada, com alguns moradores descendentes dos paulistas de Brito Peixoto, quem sabe, de náufragos ou de outros aventureiros que se estabeleceram discretamente na região.


Os registros realizados em dezembro de 1750, no documento conhecido por “Mapa de Tudo que Existe nesta Ilha de Santa Catarina e Continente Frontal” elaborado pelo Governador da Capitania de Santa Catarina Manuel Escudeiro Ferreira de Souza apontam a presença de 103 “paisanos”, entre os 325 moradores da Freguesia de Enseada de Brito naquele ano. Fundada que foi por “casais açorianos” e elevada a freguesia em 13 de maio de 1750, comprovam que esta ocupação anterior deixou marcas demográficas na região.

Foi ao sul do município de Palhoça que se estabeleceram estes primeiros açorianos, portanto, foi na área do atual Distrito de Enseada de Brito que ocorreu a primeira fase de colonização do município.


Pesquisas em arquivo apontaram o número de 496 açorianos em Enseada de Brito procedentes das ilhas do Faial 169, Pico 92, Graciosa 41, Terceira 66 e São Jorge 103, São Miguel 19, Santa Maria 6, indicando que pelos anos seguintes outros açorianos se deslocaram para a região.
Estes açorianos e seus descendentes associados aos moradores remanescentes do projeto de Brito Peixoto e de outros foram os responsáveis pela ocupação inicial das terras que se estendiam de Garopaba ao atual Aririu.

Os sobrenomes: Farias, Silveira, Pereira, Machado, Melo, Fagundes, Ferreira, Coelho, Silva, Souza, Quaresma, Medeiros, Rodrigues, Antunes, Alves, Almeida, Bitancourt, Costa, Espíndola, Goulart, Lima, Luiz, Martins, Nascimento, Oliveira, Peres, Tavares, Vieira vieram com os Açorianos, embora sejam nomes comuns a outras áreas do Brasil.


Uma curiosidade com relação à fixação dos Açorianos na Freguesia de Enseada de Brito é que mantiveram as rivalidades que cultivavam nas ilhas, procurando se agrupar por comunidades e casar entre si, mantendo verdadeiros “bolsões culturais de resistência” aos integrantes das comunidades rivais. Os moradores da Praia de Fora, Furadinho, Guarda do Cubatão, Sede, Massiambu, Araçatuba tinham rivalidades que só eram superadas pela força da igreja. Dos bailes ao futebol, da pesca as festas, passando pelos namoros havia fortes rixas com os vizinhos.
No entanto, quando se tratava de problemas com outras comunidades, de outras freguesias se uniam para enfrentar este rival comum.

A área norte do município onde se localiza a cidade de Palhoça só foi ocupada de forma sistemática no final do século XVIII, destacando-se entre os que requereram sesmarias na região o açoriano Caetano Silveira de Matos que em 1793 se estabeleceu com “bens de raiz” junto ao rio Maruim.
A existência de amplos manguezais fez com que fossem ocupadas inicialmente as terras do Passavinte, Cova Funda, Aririu, Guarda do Cubatão e só em meados do século XIX as próximas a praça central do município.


Enquanto a primeira etapa foi feita por açorianos e seus descendentes, a ocupação de meados do século XIX teve nos colonos alemães e alguns italianos os principais responsáveis, conforme os sobrenomes abaixo encontrados em 1892 na região.
Os sobrenomes alemães: Emmel, Aldoff, Born, Erm, Gerber, Goerdet, Gukert, Hoeming, Jonsen, Kellion, Kerig, Kering, Knaben, Knoll, Lahmkul, Luch, Schefer, Schlemper, Schmidt, Schütz, Somar, Tiner, Truppel, Veingestner, Wagner, Werdorfer, Zimmermamnn; italiano: Bertoncini, Pierri, Pisani, Rondino, Sanseverino, Valenti

Em 24 abril de 1894, pelo Decreto Estadual número 184, de Antonio Moreira César, foi criado o município de Palhoça, desmembrado do de São José, com as terras ao sul do rio Maruim, que envolviam as freguesias de Santo Amaro do Cubatão, Águas Mornas, Enseada de Brito, Garopaba, correspondente aproximadamente dois terços da área territorial do então município de São José. Acredita-se que tenha sido vingança política, pois São José sempre foi um forte reduto monarquista.

A partir de então surge o município de Palhoça, com uma história marcada pela presença da multiculturalidade, em que aflora como marca maior a cultura de base açoriana,

A cultura de uma região é o resultado da influencia direta de seus habitantes, que através do seu “saber ser e saber fazer” deixam suas marcas culturais.
No município de Palhoça estas marcas estão mais associadas à herança cultural de base açoriana legada por estes colonizadores que foram por mais de 100 anos a base populacional do município.
Na arquitetura a “Praça de Enseada de Brito”, tombada com Patrimônio Estadual é a única de Santa Catarina que mantém o traçado original do século XVIII, ladeada por um conjunto arquitetônico com diversas construções centenárias, com destaque para a Igreja Matriz cuja nave central é do século XVIII, de influencia portuguesa e a torre frontal de 1911, de influencia Italiana.
Junto ao mar, ao lado direito da praça, existe uma casa tipo portuguesa rural, com data (1701) anterior a fixação dos Açorianos na região, portanto uma das construções mais antigas de Santa Catarina.

Na religiosidade manteve-se a marca da cultura açoriana através da centenária Festa do Espírito Santo, das Cantorias do Divino e Terno de Reis; da procissão de Corpus Cristo.
As benzeduras e o curandeirismo com ervas e ungüentos estão presentes entre a população num sincretismo que mistura catolicismo com cultos afro-brasileiros.
Nos folguedos ainda tem-se o Boi de mamão e a dança da ratoeira.
Nos equipamentos de apoio as atividades econômicas destacam-se as lanchas baleeiras e os engenhos de farinha.
Na gastronomia pratos a base de peixe, camarão, mariscos acompanhados da farinha de mandioca além dos produtos derivados da mandioca, ainda são encontrados em alguns pontos do município.
A maricultura e a pesca artesanal são atividades que absorvem volume significativo de mão de obra, em que são ainda utilizadas as lanchas baleeiras e variações destas.


Palhoça é multi-cultural no dia-a-dia de sua população pela diversidade da origem étnico-cultural dos seus moradores atuais, sem, no entanto, ressaltar uma identidade forte como a deixada pela cultura de base açoriana.
O município precisa navegar em direção a modernidade sem relegar a sua herança cultural de base açoriana e estimular as marcas culturais das outras etnias.

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8 Comments:

Anonymous Anônimo disse...

Belas fotos e ótimo texto
=D

domingo, 01 março, 2009  
Anonymous Anônimo disse...

Olá Prof. Vilson!
Muito o trabalho.
Como está a sua agenda para uma conversa sobre o fundador de Garopaba. Está disposto a ir à garopaba falar sobre Manoel Marques Guimarães?
Poderia dar um retorno?
Fone para contato: 96240457
Abraços
João Pacheco de Souza

sábado, 14 março, 2009  
Anonymous Anônimo disse...

Olá Prof. Vilson.

Sou filha do Fotográfo J. MUller (morador da Palhoça), e estou citando seus estudos em meu trabalho de conclusão do Curso de Bacharel em Geografia pela UFSC.
Estou muito grata, pelos estudos e resgates históricos que agora estão me sendo muito úteis.
Infelizmente, fiquei um pouco chateada em perceber que as fotos aéreas postadas em seu Blog são do meu pai, e as mesmas não estão identificadas.
Como já reparei o sr recebeu elogios pelas belas fotos postadas no entando o trabalho de meu pai não foi reconhecido.
O sr. imagina como seria chato algum utilizar um trabalho seu e não cita-lo.
Acredito que tenha sido apenas um esquecimento, e que possa ser corrigido, afinal meu pai sempre teve uma postura prestativa a todos que precisaram utilizar seu trabalho, na maioria das vezes doando o uso das imagens, portanto acredito que o trabalho de meu pai deve ser reconhecido, não é mesmo???

Agradeço novamente o resgate histórico da nossa cidade e espero que nas próximas consultas eu possa vir a ter a felicidade de ver a citação do trabalho do FOTOGRAFO J. MULLER

Atenciosamente,

Jacilene Müller

segunda-feira, 11 maio, 2009  
Blogger Biga disse...

Boa Noite,
é com grande prazer que visito seu blog.
Fiquei sabendo da existência dele através de uma proposta de Capacitação que me foi enviada, na escola que trabalho em Biguaçu, mais precisamente Três Riachos.
Já o acompanho a bastante tempo, fui a primeira professora de sua filha mais nova, Juliana, no "Coleginho de Fátima - Estreito". Eu devia ter uns 19 anos...faz muito tempo...hoje já são 40 anos... Naquela época recebi dois livros seus de presente. Mas hoje, sou inseparável daqueles todos que se referem aos Açores. Há algo que me atrai para aqueles mares ( é algo espiritual,de outras encarnaçãoes, só pode ser!). Sou gaúcha, filha de baiana e alagoano, mas nasci em Osório e vivi lá até os 15 anos(olha os açorianos aí...). Em 1984, vim para Floripa (açoriano novamente...) Passo minhas férias de verão, desde pequena, em Sombrio...temos até casa de praia na Gaiovota (a melhor rosca de polvilho é de lá). Meus filhos são manés, para meu orgulho... Quando trabalhei no Colégio Catarinense, realizei uns 10 projetos sobre História do Município de Florianópolis, com ênfase na cultura açoriana. E, agora, surge o Curso de Capacitação em "Metodologias de Ensino e Pesquisa - Ação/mapeamento da Cultura Popular...", coordenado pelo Senhor!!! Isso já está parecendo perseguição (uma boa perseguição, é claro)!!! Torço para que realmente a prefeitura de Biguaçu nos proporcione esta capacitação, que enriquecerá nosso trabalho de sala de aula. Na escola em que trabalho, acumulo a função de Orientadora e Supervisora Pedagógica, por falta de pessoal. Minha formação é Pedagogia, com habilitação em Orientação Educacional. Mas, estive em sala de aula, dos 18 aos 37 anos...
Acho que, se algum dia eu puder estar em Açores, terei a nítida impressão de já conhecê-la, de outras vidas...tamanha é a minha paixão pelas tradições açorianas...
Enfim, é bom saber que podemos contar com um estudioso dedicado comprometido com suas raízes.
Agora, em nossa escola, estamos lutando para elaborar as aulas de história sobre o município de Biguaçu, em vista das pesquisas que precisamos fazer, nos poucos livros que encontramos. Mas, não desistiremos! Porque acreditamos na importância de se conhecer a história do lugar onde se vive.
Três Riachos, é feita de pessoas simples, mas muito comprometidas com o trabalho da escola, que só tem 4 meses de funcionamento. E espero, poder contar com sua colaboração na construção do nosso PPP.
Um grande abraço, sucesso em suas pesquisas e vou acompanhá-lo mais de perto, agora.
Atenciosamente,
Abigail Silva de Souza
Trindade - Fpolis

domingo, 14 junho, 2009  
Anonymous vilson disse...

Ola, obrigado por ter ajudado a formar a minha filha Juliana. Que bom saber que o nosso trabalho é acompanhado com interesse. Gostaria que motivasse outros professores, técnicos educacionais, orientadores, gestores a participarem do curso. Só depende das inscrições para ele possa ocorrer. E bom e ajudará os professores a refletirem sobre apropria prática pedagógico nas abordagens referentes a cultura popular/ relações escola-comunidade. Espero encontrá-la, entre os participantes do curso. Estimule os professoes da sua e de outras escolas da rede municipal a participarem.
Um abraço, professor Farias.

terça-feira, 23 junho, 2009  
Blogger Vilson Farias disse...

Jacilene, Peço desculpas. Quero fazer justiça a uma lapso cometido, que as vistas aéreas publicadas são de autoria do fotógrafo J. Muller de Palhoça.
Que o erro foi corrigido e que ao amigo Muller deixo um abraço.

Professor Farias

domingo, 27 setembro, 2009  
Anonymous Anônimo disse...

Amiable post and this fill someone in on helped me alot in my college assignement. Say thank you you for your information.

quarta-feira, 20 janeiro, 2010  
Blogger http://cacalimas.blogspot.com.br/ disse...

Boa noite.
Existe alguma lista de nomes dos acorianos vindos a Santa Catarina?
Caso positivo, ha como eu consegui-la?
Agradeco antecipadamente.

Cacilda de limas

segunda-feira, 18 agosto, 2014  

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