07 fevereiro, 2008

Parte 18: O Conto do Vigário

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A festa estava animada. Cachaça, vinho de uva, vinho de laranja, batida de butiá, batida de coquinho de cachorro, tinha em quantidade suficiente para embebedar a todos.
Eram todos amigos de constantes travessuras e de trabalho árduo, tanto nas lidas do mar como da roça. Estavam presentes o Joaquim, o Indalécio, o Manoel Santos, eu e o Juvenal.

O local era agradável, debaixo de um grande ingazeiro, nos fundos da propriedade.

Havia sido improvisado um fogão com tijolos, colocando-se a chapa sobre estes. As panelas de barro contendo o ensopado de galinha e os milhos cozidos estavam fervendo exalando um cheiro agradável.

Foi neste clima cordial que começou a primeira parte da comilança.
O seu Joaquim Silveira estava radiante por ter roubado o peru do Indalécio, não se cansando de elogiar o gosto do ensopado, na frente do próprio roubado.
Este por sua vez, também elogiava a comida, sem desconfiar que o peru fosse de seu próprio quintal.

O grupo começava a ficar alegre um pouco além da conta, quando o seu Juca, que havia ajudado a roubar o cabrito do seu Joaquim, chegou convidando a todos para saborearem um assado de cabrito, em sua casa, perto do rio do Biriço.

A pergunta que rondou na cabeça de cada um foi à mesma - de quem era o cabrito roubado?

O seu Joaquim ficou meio desconfiado, mas como já tinha tomado um pouco a mais do que devia, logo esqueceu a suspeita de que poderia ser o seu bichinho. E lá se foram em direção da casa do seu Juca.

A comida era farta e variada. No espeto, já assado, estava o cabrito.
Na mesa improvisada tinha farofa, pamonha, feijão e uma suculenta melancia.

O alegre grupo juntou-se aos que já se encontravam no local.
Ao todo eram uns l0 homens.
Após os cumprimentos, começaram a bebericar e a comer o cabrito.

Elogios eram dados, sem que se tocasse na origem do bicho.
E foi exatamente o seu Joaquim que colocou lenha na fogueira. Em tom brincalhão disse:
- Sabe pessoal, nos roubamos o peru de alguém, que comeu e elogiou muito a sua própria ave.

- Compadre, quem foi o pato? Perguntou o Manoel Santos, com cara de inocente.

- Tentem adivinhar, falou Joaquim.

Começaram a gozar, ora de um, ora de outro, já que seu Joaquim afirmava que estava ali presente a vítima do roubo.

Depois de mais alguns coles de cachaça, seu Joaquim gozou o Indalécio, dizendo que ele tinha sido a vítima.
- Ora seus ratos, me fizeram de bobo, mas não faz mal, prometo que no próximo ano um de vocês será o pato, falou o Indalécio e continuo a comer o cabrito.

Os presentes começaram a ensaiar a gozação sobre o seu Joaquim, dono do cabrito.
Não passava pela cabeça de ninguém que este pudesse reagir de forma grosseira.

As brincadeiras sobre o cabrito começaram a ser feitas, sempre sugerindo que o dono era uma pessoa conhecida, mas sem mencionar que estava presente.
O Manoel Santos, já meio ferrado, não se conteve e perguntou: - compadre Joaquim o que o senhor achou do assado de cabrito?

Foi como se explodisse uma bomba na cabeça do Joaquim.
- Seus desgraçados, roubaram o meu bichinho, vou passar a peixeira em quem fez isso. E completou, se quem roubou é homem e honra as calças que veste que se acuse.

- Manoel Santos, branco que nem será, olhou muito sério para o seu compadre e disse: - fui eu.

Peixeira na mão, seu Joaquim avançou para o seu Manoel com a intenção de esfaqueá-lo. Indalécio que havia tomado pouco percebeu que ia acontecer uma desgraça. Homem forte saltou como uma mola em direção do seu Joaquim segurou-lhe o pulso e deu uma rasteira, derrubando o agressor. Tirando em seguida a faca de sua mão.
Havia com seu gesto impedido uma desgraça.

A par das ameaças proferidas por seu Joaquim, quando passou a bebedeira procurou o Manoel Santos e o Indalécio para se desculpar e dizer que a brincadeira tinha que continuar. Completando, só os amigos de verdade são capazes de peraltices entre si e nos fizemos entre nos porque somos verdadeiros amigos unidos por laços de amizade desde os Açores.
Mas que doeu perder o cabrito, claro que doeu.

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